

Por: Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld
No dia 13/11 último, o Papa Leão XIV, em Discurso aos participantes de uma Conferência no Dicastério para as Causas dos Santos, explicou o que caracteriza a verdadeira mística e distinguiu-a dos fenômenos que podem acompanhá-la, mas não são parte da sua essência. O tema é importante.
Disse, então, o Santo Padre que a mística caracteriza-se “como uma experiência que supera o mero conhecimento racional, não pelo mérito de quem o vive, mas por um dom espiritual, que pode manifestar-se de diferentes maneiras, mesmo com fenômenos opostos, como visões luminosas ou trevas densas, aflições ou êxtases. Em si mesmos, porém, estes acontecimentos excepcionais permanecem secundários e não essenciais em relação à mística e à própria santidade: podem ser sinais dela, como carismas singulares, mas o verdadeiro objetivo é e sempre permanece a comunhão com Deus, que é ‘interior intimo meo et superior summo meo’ (Santo Agostinho, Confissões, III, 6, 11)”.
E o Papa segue: “Os fenômenos extraordinários que podem caracterizar uma experiência mística não são condições indispensáveis para o reconhecimento da santidade de um fiel: se presentes, fortalecem as virtudes não como privilégios individuais, mas enquanto ordenados para a edificação de toda a Igreja, o corpo místico de Cristo. O que mais importa e o que mais deve ser enfatizado no exame dos candidatos à santidade é a sua plena e constante conformidade com a vontade de Deus, revelada nas Escrituras e na viva Tradição apostólica”.
Qual é, então, a solução para este impasse; isto é, como agir ante uma Causa de Canonização que esteja repleta de fenômenos supostamente místicos (o acurado exame é que vai dizer se realmente são tais ou não)? O Sumo Pontífice responde que nestes casos é “importante manter o equilíbrio: tal como as Causas de Canonização não devem ser promovidas apenas na presença de fenômenos excepcionais, também deve-se ter o cuidado de não as penalizar se os mesmos fenômenos caracterizam a vida dos Servos de Deus”. E não para aí. O mesmo Papa aponta, de modo bem geral, o modo de agir nestes casos: “Com empenho constante, o Magistério, a teologia e os autores espirituais forneceram também critérios para distinguir fenômenos espirituais autênticos, que podem ocorrer em um ambiente de oração e de sincera busca de Deus, das manifestações que podem ser enganadoras. Para não cair na ilusão supersticiosa, tais acontecimentos devem ser avaliados com prudência, através de um humilde discernimento e de acordo com os ensinamentos da Igreja”.
Esta oportuna fala de Leão XIV aborda um tema muito importante, mas que não é novo na vida da Igreja. O Papa Bento XIV († 1758) já se debruçou, com muita acuidade, sobre o assunto. Em De Servorum Dei Beatificatione et Beatorum Canonizatione, sua obra monumental, deixou, entre outros pontos, critérios assaz úteis para a análise de casos – reais ou não – tidos como místicos.
Conscientes da dificuldade que clérigos, religiosos(as) e leigos(as) têm sobre a essência da mística e os fenômenos que a ela podem vir associados, publicamos, em 2023, pela Editora Benedictus, a obra “A verdadeira mística: Deus em nós e nós n’Ele. A via segura do nosso autêntico progresso espiritual”. Ela tem início com a correção de alguns conceitos errôneos sobre mística, apresenta sua exata definição e conclui com a análise de 21 fenômenos místicos ou não (aporte, levitação, estigmas etc.). Em Apêndice, propõe um caso concreto de fenômenos místicos, aponta a dificuldade para bem analisá-los, mas oferece critérios de segurança no estudo dos fatos apresentados como sendo supostamente místicos.
Toda pessoa interessada no seu autêntico progresso espiritual à luz da fé católica está, pois, convidada a ler e meditar esta nossa obra. Leia-a e divulgue-a!
Por: Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld