Repórter Jota Anderson
A educação de estudantes autistas tem ganhado destaque crescente no cenário mundial desde a década de 1990.
Mais especificamente no Brasil, a partir da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), que instituiu a obrigatoriedade da matrícula de pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação no sistema regular de ensino, o tema passou a ser norteador da elaboração de políticas públicas voltadas à garantia do acesso dessa população à educação, fazendo valer o seu direito de aprender e se desenvolver integralmente.
Nessa direção, a educação inclusiva representa um salto social qualitativo, se for comparada com as práticas segregacionistas e excludentes que marcaram historicamente a educação desse público.
No entanto, em que pese o valor do avanço mencionado, algumas mudanças relacionadas à acessibilidade e adaptação dos prédios escolares para um atendimento de qualidade a esses estudantes, ainda deixam muito a desejar, principalmente em relação às experiências sensoriais dos autistas.
Nesse sentido, pesquisadores contemporâneos que investigam a questão, têm mostrado que tudo leva a crer que as lideranças governamentais não visualizam a necessidade de investimento na construção de ambientes inclusivos para este público específico, “talvez por não conseguirem imaginar o mundo onde roupas que pinicam os fazem sentir-se pegando fogo, ou onde uma sirene soa como se alguém estivesse perfurando seu crânio com uma furadeira, ou simplesmente porque não conseguem olhar o mundo do ponto de vista dos autistas”. (Oliveira,2020)
Por consequência, essa falta de um olhar mais cuidadoso para a questão, acarreta inúmeros problemas para o estudante autista, levando-o a se esforçar demais para se adaptar e compreender o ambiente escolar.
Sobre isso, Ranfereis sublinha que “a forma como o design de um espaço é pensado e planejado, pode fazer com que os autistas respondam mais positivamente ao ensino”, e por isso considera fundamental que “a escola em termos de ambientação seja de interesse e preocupação da direção, coordenação, corpo docente, arquitetos e designers envolvidos diretamente no planejamento estrutural dos ambientes em que se darão os processos de ensino-aprendizagem” (apud Oliveira 2020)
Portanto, com apoio nesses estudos e pesquisas, faz-se urgente que governos, ministério público, arquitetos, engenheiros e autoridades educacionais, levem esse assunto mais a sério, e comecem a repensar a engenharia e a organização interna das escolas regulares, tornando-as mais adequadas às características sensoriais dos estudantes autistas, norteando-se por um dos princípios fundamentais da educação inclusiva, qual seja o de que é a escola que deve se ajustar para receber o estudante, e não o contrário.
Ivanilde Moreira
Pedagoga, Consultora Educacional