Repórter Jota Anderson
A Psiquiatria Forense descreve alguns criminosos perversos como portadores de pseudopsicopatia. Daí a questão: Que é isto? – Este artigo, depois de abordar a psicopatia clássica, visa oferecer resposta à questão em foco.
O psicopata é um predador nato. Carente de sentimentos elevados de piedade, compaixão, altruísmo e da distintiva falta de remorso pelos males cometidos, vive por aí – como um ator por excelência – manipulando suas presas e tirando delas tudo o que deseja para satisfazer sua busca insaciável de status, poder e prazer. Embora nem todo transgressor de leis seja psicopata, todo psicopata, em dado momento, infringirá alguma lei. Seu defeito está na emocionalidade empobrecida, pois, no campo racional, o psicopata tem o cognitivo em pleno funcionamento e não apresenta lesão alguma nos córtex pré-frontais e na amigdala como o portador de certas encefalopatias. É frio e calculista. Pode-se dizer que ele é quase 100% razão e 0 (zero) emoção. Não sofre delírios e alucinações – como nos casos de esquizofrenia severa – e possui plena consciência do que faz, com quem faz, onde faz, quando faz, porque faz etc.
Costumam os estudiosos dividir os psicopatas em três graus: leve (que passam golpes de vários tipos: os famosos 171), moderado (que não faz, mas manda fazer. É o mentor de homicídios, grandes roubos, vinganças etc.) e o grave (pedófilos contumazes, serial killers, assassinos cruéis etc.). Importa dizer que o psicopata nasce, vive e morre assim, embora por volta dos 40 anos sua sanha entre em declínio.
Isto posto, chegamos ao pseudopsicopata. É um indivíduo caracterizado por um comportamento antissocial semelhante ao do psicopata clássico, mas que dele difere na causa. Sim, enquanto aquele apresenta uma formação cerebral anatômica preservada, o pseudopsicopata tem lesões cerebrais verificáveis por exames neurológicos. Elas, via de regra, são adquirida no ventre materno ou em tenra idade. Pode ser fruto de uma doença infecciosa da mãe durante a gestação (zika vírus, por exemplo), de hipoxia (falta de oxigenação no cérebro do bebê no momento do parto), de meningite grave na infância etc. Isto é, este tipo de encefalopatia parece ter origem em idade precoce. Nunca depois. Contudo, frise-se que “o dano cerebral por si só não é explicação suficiente para a ocorrência do assassinato em série. Afinal, inúmeras crianças batem com a cabeça ao levar tombos de bicicletas, balanços ou trepa-trepas e não se tornam assassinos sádicos e canibais” (Harold Schechter. Serial Killer. Anatomia do mal. Rio de Janeiro: DarkSid Books, 2013, p. 254).
Eis, a título de exemplo, uma ocorrência assustadora no Brasil: “Champinha”, aos 16 anos de idade, manteve em seu poder e de seus comparsas, entre 1º e 8/11/2003, o casal de paqueras adolescentes Felipe Café e Liana Friedenbach. Depois de matar Felipe, abusou sexualmente e matou Liana. Após ser judicialmente interditado, no campo civil, permanece internado em um manicômio judiciário. O Dr. Guido Palomba, afamado psiquiatra forense brasileiro, diz que o criminoso foi vítima de hipóxia ao nascer e é um pseudopsicopata (cf. Por dentro da mente de Champinha. Youtube, 11/11/2024).
Por fim, cabe dizer que se os psicopatas têm plena consciência de seus atos, os pesudopsicopatas parecem carecer parcialmente dela, pois sua neuropatia pode vir acompanhada de déficit intelectual, distúrbios de conduta e epilepsia. Ora, isso não ocorre com os psicopatas clássicos. As análises hão de ser, portanto, feitas caso a caso.
Todavia o que podemos afirmar – a título de modesta conclusão – é que psicopatas e pseudopsicopatas têm comportamentos muito semelhantes, mas motivados, como se vê, por causas diferentes. Ambos, porém, ao cometerem crimes, requerem isolamento social até que a periculosidade realmente cesse.
Vitor Roberto Pugliesi Marques, neurologista; Vanderlei de Lima, psicopedagogo e autor do livro Psicopatas (Ed. Ixtlan, 2022).