Moradores questionam o desabastecimento e enfrentam dificuldades para obter remédios básicos.
Cartazes improvisados, revolta acumulada e histórias de omissão. Foi assim que duas moradoras de Mococa decidiram protestar, nesta semana, diante do gabinete do prefeito. A denúncia: falta de medicamentos na Farmácia Municipal, uma realidade que, segundo elas, se arrasta há meses e afeta diretamente a população que depende do SUS.
"Estou aqui pelo direito da minha filha, que é diabética. Este mês não consegui as tiras de glicemia. Tive que comprar do meu bolso, e eu não tenho condições", afirmou Ana Luísa Mancuso Pereira, que esteve na manifestação realizada na última terça-feira (15), junto com Lu Almeida. "A gente nunca consegue resposta, mas bastou o protesto começar que apareceu representante da Secretaria para tentar nos intimidar", relatou.
A mobilização se repetiu na quarta-feira (16). Os vídeos compartilhados nas redes sociais tiveram forte repercussão, e nos comentários, dezenas de moradores relataram situações semelhantes. “Estive lá ontem. Não tem nem as fitas para verificar a glicose. Só quem tem uma pessoa diabética em casa sabe da importância e da necessidade”, escreveu uma moradora. “A medicação que meu filho toma tá em falta. Tive que pedir demissão do serviço para poder cuidar e acompanhar ele 24 hrs assinei até um termo de responsabilidade. Qlq medicação sabemos que é um absurdo. Por onde anda a verba destinada as medicações da farmácia do povo?”, relatou outra usuária. “Tb pego remédios para diabetes e nunca tem como gliclazida”, afirmou uma paciente.
Em entrevista a uma emissora de TV de Limeira parceira da TV Direta Mococa, o secretário municipal de Saúde, Fábio Delduca relatou que a questão é complexa e envolve responsabilidades de diferentes esferas. “O município é responsável pela distribuição de medicamentos da atenção básica, mas existem medicamentos que são responsabilidade do Estado e da União. A insulina, por exemplo, é fornecida via Ministério da Saúde”, explicou.
Ainda segundo Delduca, o município mantém uma lista de 88 medicamentos fornecidos com recursos próprios, com um custo anual de cerca de R$ 4 milhões. Ele afirma que 92% desses medicamentos estão disponíveis em estoque. No entanto, reconhece que há problemas pontuais. “Fizemos a compra de 20 mil unidades de um medicamento para diabetes no primeiro semestre, mas identificamos que muitos pacientes com receita de consultório particular estavam retirando na farmácia municipal. A partir do segundo semestre, a dispensação será apenas para pacientes SUS, para mantermos o controle do estoque”, justificou.
Questionado sobre a oscilação no fornecimento, especialmente para tratamentos contínuos, o secretário respondeu: “Quando o Estado ou a União falham no envio, o município nem sempre tem como suprir. Alguns medicamentos são caros ou de difícil acesso. A gente notifica, cobra, mas nem sempre há resposta rápida”.
A situação vivida por Ana e outros pacientes ilustra um problema estrutural. Embora a Secretaria de Saúde tenha publicado em suas redes sociais e veículos de comunicação parceiros da prefeitura municipal da cidade uma nota afirmando que a retirada de insulina e tiras de glicemia foi realizada no dia 8 de julho, a população afirma que a entrega é incerta, sem previsão clara de reposição.
“É uma tentativa atrás da outra. Eles mandam vir em tal dia, e quando chegamos, não tem. Isso não é exceção. É rotina”, resumiu Ana Mancuso.
Mesmo diante da tentativa da prefeitura de explicar as causas do problema, o sentimento que domina os usuários da Farmácia Municipal é o de insegurança. O protesto silencioso desta semana rompeu esse silêncio e deu voz a uma população cansada de esperar pelo básico: o direito de se tratar.
Por Redação do TVD Notícias – Mococa (SP)
