Recebi, há alguns dias, o livro da Dra. Arlene Denise Bacarji que se intitula A impostura no ministério da Ordem: transtornos de personalidade e perversões no clero à luz da psicanálise e da psiquiatria (Ed. 2 D).
A autora da obra é uma profissional graduada, mestrada e doutorada em Teologia, filósofa e mestre em Sociologia que se preocupa com o bem da Igreja (cf. p. 7), especialmente no que diz respeito à formação de novos clérigos: diáconos, sacerdotes e bispos.
Daí, decidiu, a partir de ferramentas da Psicanálise e da Psiquiatria, publicar esse livro-alerta, dado que para a escritora “existem fatores de ordem psiquiátrica que interferem nas relações intraeclesiais e que causam inúmeras confusões em sua imagem perante o Povo e a sociedade em geral” p. 8.
No Prefácio, fica muito claro o objetivo da obra: “Não tenho jamais a pretensão de questionar o sacramento da Ordem; ao contrário, tenho a intenção de protegê-lo contra os impostores e as imposturas que lhe têm sido prejudiciais e que, inclusive, o ameaçam em relação à vivência fecunda do ministério sagrado”.
Daí a delimitação do tema exposto por Arlene: “Este livro trata somente e apenas de pessoas com problemas de transtornos de personalidade e perversões. [...] Estou a falar aqui de uma parcela do clero, que não é a maioria, mas que gera um grande estrago na Igreja de Cristo. São os impostores e não os verdadeiros vocacionados” p. 7.
A autora diz, na conclusão, esperar que o seu “pequeno trabalho possa atingir alguns objetivos: esclarecer o ‘porquê’ de certas pessoas agirem de forma que não compreendíamos antes de ler sobre seus transtornos; trazer luz sobre essas atitudes; mostrar às autoridades da Igreja que estas pessoas fazem parte de um quadro patológico sem perspectiva de cura; diferenciar o pecador comum e normal dessas pessoas para o clero, de forma a evitar uma crise ainda muito maior daqui a alguns anos” (p. 82).
Embora, a Dra. Arlene deixe claro que seu trabalho não é um tratado profundo de patologias (cf. p. 81), examina as raízes da maioria dos problemas psicológicos na primeira infância; trata da chegada dessas pessoas portadoras de transtornos e perversões às fileiras clericais para, no capítulo 3, oferecer algumas possibilidades de saídas aos casos graves que tanto enfeiam a face humana da Mãe Igreja.
A grande maioria desses vocacionados problemáticos é – segundo a autora – dissimulada e enfrentar tais pessoas torna-se deveras perigoso: “Qualquer denúncia contra elas as transforma em vítimas rapidamente e em algoz aquele que denuncia, inibindo assim as pessoas boas a denunciarem o que veem” (p. 41). Aqui, uma questão crucial, de ordem moral, se impõe: Que fazer então? – A resposta admite gradações. De modo geral, a começar por quem tem maior autoridade até chegar a quem não a tem, o caminho é sempre expor a verdade bem fundamentada. Em termos latinos, sabemos que amicus Plato, magis amica veritas, isto é, se Platão é amigo, mais amiga é a verdade. Quando a questão, de algum modo, envolve, então, a própria Verdade, que é Cristo (cf. Jo 14,6) e Sua Igreja (cf. Mt 16,18), ninguém deveria se calar.
Mesmo se, em linguagem popular, seja sabido que “o jogo pode se inverter”: quase sempre o denunciante será cruelmente perseguido pelos perversos. Sim, “não são poucos os casos de pessoas boas que deixam sua vocação verdadeira por causa dessas situações, onde elas denunciaram e foram perseguidas e prejudicadas, como se fossem os vilões”. Isto em meio a perseguições – contra os bons vocacionados – nos piores níveis e, não raras vezes, com o apoio dos superiores manipulados pelos perversos (cf. p. 41).
Ainda assim, ânimo! Afinal, Cristo mesmo disse: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo” (Jo 16,33).
Eis, pois, um excelente livro!
POR: Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld.
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